quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Silêncio

Fim de jantar. Hoje cabe-me a mim a tarefa da loiça enquanto o Jorge e a Filipa recolhem todo o pessoal mais novo para os quartos.
“Gastão sai debaixo da mesa, já devias estar com o pijama vestido!”, “Emília, por favor deixa o TPC em paz e vai com a Filipa para o quarto. Aproveita e conta-lhe quão bem o teu professor toca”. Ainda me é tão estranho dizer este tipo de coisas, mas julgo que, com o tempo, haverei de me habituar.
Hoje, apesar do cada vez mais habitual barulho das criancinhas, noto um silêncio. Este começa a tornar-se demasiado frequente, no entanto eu continuo a insistir que “NÃO, este silêncio constrangedor vai desaparecer, TEM de desaparecer!”

Quando crianças e loiças já estavam nos devidos lugares, começo a ver o pessoal da nova AE a dirigir-se para a sala de alunos. Decido acompanhá-los e esperar a hora do recolher dos alunos mais velhos. Mal nos sentámos, começamos a ouvi-los chegar. Tentei distinguir pelas vozes quem vinha aí, até que fiquei à escuta de umas que estavam a fazer beatbox seguidas de uma gargalhada com uns agudos tão característicos da L…
Por milésimos de segundo, mesmo percebendo que algo de muito estranho se passava no timbre daquelas vozes tão familiares, os meus olhos brilharam (e acreditem, os meus não foram os únicos). Mas, de seguida, o Jorge diz “Bom, são os últimos, o Guilherme, o Vasco e provavelmente a Maria da Paz”. E lá estavam eles, “Até amanhã” disseram.

Ouviu-se ao longe o som de um violoncelo. O Francisco não estava na sala.
Todos nos olhámos, e O Silêncio voltou. Entre conversas sobre audições de alunos, possíveis actividades da AE para este ano, as muitas histórias semanais dos nossos professores e funcionários e etc.’s, todos estávamos a tentar ignorá-“Lo”, até que apareceu o Pedro de violino, com o maior ar de sono possível de imaginar, a esfregar os seus olhitos (que teimavam a fechar) por detrás dos seus óculos.
“Tiago, onde está o André?”, perguntou. “Então puto Pedro, o André este ano não está cá, está na Holanda…” respondeu o Tiago. Os olhos do Pedro finalmente abriram e, em poucos segundos, a sua expressão de confusão passou a uma de constatação “Aah, pois é.. Amm, será que algum de vocês me podia preparar um copo de leite? Costumava ser ele a preparar…”. Levantei-me, “Eu vou. Também já estou a ficar cansada, aproveito e vou já para o quarto. Beijinho”.
Enquanto caminhava com o Pedro, ouvi ao longe o Tiago dizer “Fogo, até os miúdos…”

Servi-lhe o copo e esperei que o Pedro bebesse para lhe desejar boas noites e vê-lo ir rapidamente para o seu quarto.
Entretanto, vejo o Francisco passar com o violoncelo também em direcção aos quartos. “Já te vais deitar?”, perguntei. “Sim, a Magui vai ter uma apresentação amanhã, é capaz de ficar a estudar toda a noite…” e diz entre dentes “e ao que parece a Ana continua em Turim… Portanto sim, vou já dormir” e sorriu. Eu tentei sorrir, mesmo sabendo que a minha tentativa de compreensão não serviria de muito.

Segui para o meu quarto. O Silêncio voltou.
Já deitada e um pouco cansada de “O” ouvir, disse para mim própria “Margarida, tu estás a perceber que estás a ser um piriri egoísta não estás? Querias que eles ainda aqui estivessem? Não achas que chegou a altura de eles «levantarem voo»?” não houve resposta. “O IGL foi a «melhor mãe do mundo» para eles. Alimentou-os com a melhor música, educou-os com os melhores professores e fê-los crescer até conseguirem sobreviver por eles próprios. Melhor que isso! Eles não só cresceram como também fizeram com que os outros quisessem crescer cá dentro, criaram a AE e conseguiram envolver-nos a todos nesta casa. Que querias mais?! Agora cabe-te a ti e a todos os elementos da nova AE a difícil tarefa – e tu sabes que tanto tu como todos os outros membros estão mais que gratos e orgulhosos pela Ana, a Laura, o AndréF e também a Bayley (que apesar de não a ter conhecido, sei que ela deu uma grande contribuição para a nossa AE) terem posto a fasquia tão alta – de manter e continuar a fazer crescer o que eles fizeram nascer! Quanto a eles, tu tens mais que certezas absolutas que, apesar de eles cá fazerem falta, eles estão a tornar-se cada vez melhores e que nos próximos anos continuarás a ouvir falar sobre eles e sobre o quão excelentes eles são naquilo que fazem.”

O Silêncio parou. Agora ouvia risinhos abafados e alguém no fundo do quarto a falar enquanto dormia. “Meninas, já é muito tarde, não façam barulho e durmam… Até amanhã!”, disse. E em coro responderam baixinho “Até amanhã”.
Suspirei e sorri.
Sabia que O Silêncio voltaria e que esta não foi a primeira nem será a última conversa que terei comigo própria sobre isto. Mas também sei que “that’s how it’s suppose to be” e estou muito feliz por isso. E agradeço-vos, Ana, Laura, AndréF e Bayley, em nome da AE, por terem-no feito :)

1 comentário:

Magui disse...

:) a velha guarda... bolas!... Como o tempo passou tão depressa...