Não atino com o raio das semicolcheias do Chopin! Bolas!
Tenho um trabalho de Biologia para entregar na 2ª... Uma ficha de matemática também na segunda... Teste de Biologia na 5ª...!!! Aaahhh!! Tenho de arranjar alguém que me acompanhe na audição de Educação Vocal... que nem sei ao certo se está marcada!...
O meu ar de 3 palavras PÂ NI CO fez-se transparecer durante os momentos em que constatei estes factos... Estava a ser observada. Gosto sempre quando o André tem algo para me dizer. Sei que, sempre que falo com ele, aprendo.
- Magui! Calma. Tu consegues! Com um bocadinho de organização isso vai lá!
- Quero fazer tudo... Não quero deixar nenhum deles para trás!
- Aos olhos d'Ele nada é impossível.
Inspirou-me!
Passei a tarde a fazer uns exercícios de limites (Matemática), enquanto a Rita ia lendo as peças para música de câmara. Estava a gostar daquilo... Ouvi-la, por incrível que pareça, ajudava-me a concentrar.
A seguir ao jantar, fui até à sala 18. Cruzei-me com o Jorge pelo caminho e fomos dar com o Tiago Oliveira a treinar os harpejos do estudo de Chopin, e eu tive uma brilhante ideia! O Tiago é perfeito para me acompanhar na audição! Falei-lhe no assunto. Em princípio tenho este problema resolvido. Menos um! A Ana Raquel estava à espera dele, então saiu. Eu e o Jorge aproveitámos então para treinar para a audição. Eu toquei e depois foi a vez dele... Mas enfim... aquele vício dos números de série é mais forte que qualquer outra coisa... Desisti de o fazer largar o piano...
Subi as escadas. A Laura vinha a descer. Estranhei aquele olhar, queixei-me do Jorge e mal lhe liguei. Mas depois olhei para trás e vi-a descer. Eu gostei daquele olhar. Era amoroso! Tenho saudades de quando passávamos imenso tempo juntas. Tantas gargalhadas! E tantos ralhetes! Enfim...
"Não. Não vou subir." Pensei. Não tinha sono. Fui ver se encontrava alguma coisa sobre Vírus, na Internet, para o trabalho de Biologia. Quando estava para sair, chegou o Afonso. Olhou para o que eu estava a fazer e disse:
- Olha lá! O pé de atleta é um fungo... Tem antigénios e tal... os linfócitos reconhecem-nos. Blablabla. Anticorpos. E afins... porque é que é os fungos ficam sempre lá? O que é que têm de especial?
- Tenho ideia de que eles nunca desaparecem, ficam apenas inactivos.
- Vou pesquisar!
- À vontade! Já estava de saída - sorri.
Fui ver como estavam os ares na sala de alunos. A Laura estava a dormir, havia PÃO DE FORMA COM NUTELLA! com um bilhete. Concordei plenamente!!
Sentei-me ali ao pé. Parei no tempo. Segui o conselho do André: um pouco de organização, e estruturei o dia seguinte. Dava tempo para tudo. Inclusivé para estar ali, naquela sala acolhedora, mesmo sem alcatifa! Porque o que a faz acolhedora são os momentos que ali vivemos... que são tão bons... tão felizes...
Ouço passos! Alguém veio à casa-de-banho. Entrou na sala de alunos. Era o Francisco! Olhou para as sandes e não resistiu. Tentei olhar-lhe com um ar reprovador, mas não fui capaz! Ele fez-me sinal para que eu esquecesse tudo o que tinha visto. Foi o que fiz!
A Laura continuava naquele sono… Lembro-me de uma tarde, e de uma menina assustada, e de um abraço… Já sabes! Sempre que precisares…
Do nada, um som estridente assustou-me!! Mas calou-se logo! A presidente ainda se ajeitou no meio dos cobertores. Era hora de ir dormir. Subi as escadas, passei pela sala 28, vi a porta da varanda aberta e dois vultos altos. Percebi o porquê do som estridente. Malta distraída! Não são miúdos. Não há com que me preocupar.
Cheguei ao quarto. Estavam todas a dormir. Só o meu beliche e a cama da Laura estavam vazios. Deduzi que os vultos que tinha visto eram OS violoncelistas. E estariam a comer sandes de Nutella! A Ana já é crescidinha, mas não deixa de ser por isso que eu, sendo mais nova, não me preocupo. De momento, está com o Francisco. Posso dormir descansada.
"Chega de pensamentos! Tenho muito que fazer amanhã!"
E fui adormecendo, sempre com a alegria de fazer parte desta família, de ter nela irmãos que me compreendem, que pensam em sintonia comigo, que contribuem para aquilo que eu sou hoje, aceitando-me tal como eu sou. Que me estimulam a não querer deixar nada para trás, a querer tudo o que faz de mim a pessoa que conhecem!
Obrigada!
Magui.